As origens de Resende e
de seu fundador Simão da Cunha Gago.
Julio
Cesar Fidelis Soares[1]
I-Ascendência de Simão
da Cunha Gago
Segundo estudos
genealógicos a família Cunha Gago tem ascendência em Henrique da Cunha, amigo
do almirante português Martim Affonso de Sousa, que com ele passou a S. Vicente
em 1531 com sua mulher Filippa Gago. Ele pertencia à ilustre casa dos Cunhas,
os quais procedem pela linha reta masculina de el-rei Dom Fruella II, rei de
Leão - Astúrias e Galiza no ano de 923. Sua mulher Fillippa Gago era parenta
próxima do 1.º capitão-mor governador-loco tenente do donatário da capitania de
S. Vicente - Antonio de Oliveira, cavalheiro fidalgo da casa de el-rei Dom João
III.
Nesta linhagem temos Antônio da Cunha Gago, tronco de
importante família onde abundam bandeirantes
e exploradores dos sertões de Minas
Gerais e da descoberta do ouro.
Antonio da Cunha Gago, o Gambeta, era paulista, casou em São Paulo
de Piratininga em 1630 com Marta de Miranda, filha de Miguel de Almeida e
Miranda, de Cascais,
e Maria do Prado. Segundo descritos por Silva Leme
tiveram 11 filhos, no volume V de sua «Genealogia Paulistana», entre os
quais destacamos Simão da Cunha Gago, casado com Catarina Portes del Rei (?-1687
morta em Taubaté, testada), irmã de Ana Portes, sua cunhada. Tiveram quatro
filhos, entre eles eles João Portes del Rei, o qual casou em 1687 com Isabel da
Fonseca (?-1708, morta em Mogi das Cruzes, já então casada pela segunda vez com
Antonio de Pontes Sutil, da família dos Godois). Tiveram cinco filhos. Em outro
registro temos o seguinte : Sargento-mor Simão da Cunha Gago
casado em Mogi das Cruzes em 1713 com Anna Pimenta de Abreu, irmã de Julianna
Pimenta filha de Antonio Pimenta de Abreu e de Angela
Paes , casada com Manoel da Cunha
Gago, que faleceu em 1752 em Mogi das Cruzes era tio de Simão da Cunha Gago em
razão do primeiro casamento de seu avô Henrique
da Cunha Gago (o velho) nascido perto de Santos em 1560, foi morador em São Paulo de Piratininga
onde faleceu em 1624, tendo sido casado 3 vezes: a primeira com Izabel
Fernandes falecida em 1599, filha do capitão Salvador Pires e de sua segunda
mulher Mecia Fernandes (Mecia-ussú)[2]; pela
segunda vez foi casado com Catharina de Unhatte, filha de Luiz de Unhatte e de
Maria Antunes, parente de Diogo de Unhatte, escrivão da ouvidoria e fazenda da
capitania de S. Vicente e fundador de Paranaguá; casou-se pela terceira vez com
Maria de Piña, viúva de João de Almeida, filha de Braz de Piña. Sem geração
desta terceira mulher.
Assim, a saga dos
desbravadores inicia-se, segundo Paranhos a tradição de que na região da
Mantiqueira teria passado, em 1596, o bandeirante João Pereira de Souza
Botafogo, sem, no entanto, ficar bem estabelecida a sua rota. Outros que se
aventuraram, ainda no século XVII, foram Jerônimo da Veiga, em 1643; Sebastião
Machado Fernandes Camacho, entre 1645 e 1648, em busca das minas de prata e o
próprio Fernão Dias Paes, em 1674. Todos seguiram o Rio Paraíba, atravessaram a
Mantiqueira pela garganta do Embaú e se internaram no chamado “caminho geral do
sertão”.[3]
Ainda segundo Paranhos, é
a partir da Vila de São Francisco das Chagas de Taubaté, que partiram as
primeiras bandeiras em direção às chamadas “minas de cataguás”. Passando pela
região de Guaipacaré (atual Lorena), transpunham a Mantiqueira e alcançavam o
atual território mineiro. Desta forma, exatamente 36 das mais antigas cidades
de Minas Gerais foram fundadas por paulistas, entre elas, Baependi, Aiuruoca e
Campanha.
Com referência a Aiuruoca temos que
em 1694, por carta de Bento Pereira de Sousa Coutinho a D. João de Lencastre,
então governador-geral do Brasil, está referenciada uma passagem de paulistas
pelo Rio Grande, que tem suas cabeceiras próximas à Serra de Ayuruoca. No
Códice Costa Matoso está anotado que Ayuruoca quer dizer “casa de papagaios,
aludindo a um penhasco redondo e elevado aos ares sobre um dos mais altos
montes daquele lugar, em que os papagaios faziam morada naquele tempo em que os
gentios habitavam aqueles lugares”.[4]
O local foi descoberto
entre 1705 e 1706, por João de Siqueira Afonso, bandeirante de Taubaté que,
segundo informações constantes do mesmo Códice, teria se internado pelo “sertão
que então era a parte do sul da estrada que vai para São Paulo, três dias de
jornada afastado para aquela parte de São João del-Rei, nas cabeceiras do rio
Grande”.[5]
Este bandeirante teria achado ouro, anteriormente, em 1704, na região de
Guarapiranga (atual Piranga).
De acordo com o que
consta da Instituição de Igrejas no Bispado de Mariana, do Cônego Trindade, a
freguesia de Ayuruoca foi criada por ato episcopal de 1718, o que, em cotejo
com outras informações constantes da Diocese de Campanha, afastam a possibilidade
de a freguesia ter sido fundada somente em 1744, por Simão da Cunha Gago,
também descobridor de ouro na região.
Ayuruoca era, segundo
apontado no Códice, uma famosa freguesia, “com duas capelas suas filiais,
assistidas de grande concurso de moradores e assistentes mineiros, com
disposições de duráveis minas, por assim o prometerem as constituições de suas
continuadas serras e ribeirões com faisqueiras de ouro”.[6]
Simão da Cunha Gago,
sargento-mor, nascido em São
Paulo de Piratininga[7],
casou-se em Mogi das Cruzes com Anna Pimenta de Abreu e foi responsável pela
primeira e mais antiga passagem da Mantiqueira para alcançar o Rio Paraíba do
Sul, saindo de Ayuruoca e atravessando a atual garganta do Registro, nas
Agulhas Negras, passando por terras de Itamonte Minas Gerais.
II- Do Desbravamento e ocupação da região do Campo Alegre da Paraíba Nova por Simão da Cunha Gago
Nos princípios do século XVII, João
Siqueira Afonso, bandeirante de Taubaté, transpôs a Serra da Mantiqueira e
ganhou as terras mineiras em busca de ouro.
Em 1702 descobre as Minas do Sumidouro, e continuando sua caminhada
descobre as Minas de Guarapiranga em 1704 (cidade de Piranga). Seguindo o Rio
Grande vai dar na Serra dos Papagaios (1706) fundando o arraial de Ayuruoca[8] . Ayuruoca
é uma alusão a um penhasco redondo e elevado aos ares, sobre um dos altos
montes daquele lugar, em que os papagaios faziam moradas como já havíamos dito.
Em 1717 a
coroa concede a Dom Brás Baltazar da Silveira uma sesmaria, e nela iniciou-se
as atividades agropecuárias.
Em1726, a boa qualidade das
terras e a previsível exaustão das catas e garimpos, levaram Manoel de Sá,
também, a obter da Coroa Portuguesa uma sesmaria de meia-légua.
Em
A região do Vale do Médio Paraíba é
notada a partir da presença de Garcia Rodrigues Paes Leme, um dos primeiros
bandeirantes a se fixar aqui região, por volta de 1715, quando obteve de D.
João V a doação da terra. Terras essas habitadas pelos índios Puris. Em
1744 Simão da Cunha Gago, bandeirante paulista, conseguiu do Governador Luís de
Mascarenhas, licença para formar uma expedição que abriu caminhos pela mata
virgem, chegando numa planície rodeada de montes, local que batizou de Campo
Alegre da Paraíba Nova. A escolha do local deveu-se a fortes motivos de ordem
econômica e geográfica, que influenciariam o desenvolvimento da região. Zona de amplo horizonte, num local bem servido de água pelos afluentes
do Paraíba, colocada estrategicamente a meio caminho das rotas que se cruzavam
em demanda do Rio, São Paulo e Minas Gerais, no período de extração aurífera.
O povoado que aos poucos se formou
ficou conhecido como Campo Alegre da Paraíba Nova, transformando-se três anos
depois em Nossa Senhora
da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova. Em 29 de setembro de 18 01 passou a ser município
alterando, inclusive seu nome para Resende em homenagem ao Conde de Resende.
Sua titulação para cidade ocorreu em 1848, já devido a sua grande importância
econômica dentro do Vale do Médio Paraíba eqüidistante dos principais centros
econômicos do país Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Fig. 1 Imagem Pioneira de N.S.da Conceição Trazida na Expedição de Simão da Cunha Gago.
Fig. 1 Imagem Pioneira de N.S.da Conceição Trazida na Expedição de Simão da Cunha Gago.
Nestes
campos encontramos o velho caminho dos Bandeirantes, que deu origem a cidades e
vilas como Baependi, Bocaina de Minas e Aiuruoca. É de Aiuruoca que segundo
narra Monsenhor Pizzaro de Araújo[9]
que, o Coronel Simão da Cunha Gago mudou sua residência de São Paulo de
Piratininga para o sítio da Lagoa de Ayruoca, na província de Minas
Gerais. Aí se ajustou com outros
povoadores do sertão de sua vizinhança, para pesquisar ouro e diamantes,
descendo em 1744 a
Mantiqueira, logo avistando uma campina extensa e aprazível ali estabeleceram
seus domicílios, tendo em sua companhia o Padre Filipe Teixeira Pinto. Em 12 de maio de 17 47
obtiveram provisão para o uso de altar portátil, sob o amparo de Nossa Senhora
da Conceição do Campo Alegre. E por Alvará Régio de 2 de janeiro de 17 57 a Capela
curada foi elevada a Matriz, com párocos próprios, tendo assim predicado de
freguesia. O Vice-rei de então, Conde de
Resende Dom José Luiz de Castro, expediu uma provisão ao Ouvidor José Albano
Fragoso, para que lhe desse imediata execução, indo ao distrito de Campo Alegre
em companhia do guarda-mor Geral Fernando Dias Paes Leme da Câmara, e ali
fundasse uma vila. E assim o Ouvidor fez cumprir a ordem do Vice-rei, no dia 29 de setembro de 18 01,
fazendo eleger vereadores, juizes e tabeliães, almotacés e escrivões,
estabeleceu os limites do território da Vila, e estando presente a nobreza e o
povo deu-se por criada e instalada a Vila de Resende.[10]
Simão
Cunha Gago é o primeiro a ver a bacia terciária de Resende, encaixada no vale
arqueano do rio, a qual, por seus peculiares fatores geológicos apresenta um
solo menos fértil para o adensamento florestal, desdobrando cerrados ou longos
campos descobertos; origem do nome do arraial edificado pelo coronel Cunha
Gago. Arraial este que é responsável
pela abertura de um novo caminho das Minas Gerais para o Rio de Janeiro, logo
proibido por ordem régia.[11]
Vimos
então que desde a sua fundação como Arraial de Nossa Senhora do Campo Alegre da
Paraíba Nova nos idos de 1744, Resende teve e tem papel preponderante na
história da região do Vale do Paraíba uma vez que sempre esteve a partir de sua
fundação nas rotas de abastecimento e apoio das caravanas que se deslocavam no
seu ir e vir da costa aos sertões fazendo-se de extrema importância estratégica
dentro da logística não só do período bandeirista dos séculos XVII e XVIII
quando das empreitadas sertão adentro em busca de índios e, sobretudo na
procura de mananciais auríferos da Minas Gerais. Por fim, dizemos que tudo se
encaixa na saga do desbravamento dos sertões na procura de uma passagem através
dos contra fortes da Mantiqueira, onde nessa dinâmica vemos a importância dos
desbravadores como Simão da Cunha Gago para sociedade que temos hoje e para
todas as cidades fronteiriças dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais que acabam partilhando uma História comum.
Bibliografia
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Leme,
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& Maria Cristina F.M. Godoy –ARDHIS –Academia Resendense de
História.Resende, Crônicas dos Duzentos Anos, Resende-RJ :Ed Gráfica La Salle
2001
[1] Mestre em História Social ,
Economista, Professor de História Econômica, Formação Econômica do Brasil de
Desenvolvimento Econômico e Social, Professor do Centro Universitário Geraldo Di Biasi Volta Redonda e Barra do Piraí; Membro da Academia Resendense de História , da
Academia de História Militar Terrestre do Brasil e Vice-Presidente do Instituto de Estudos Valeparaibanos- IEV -Lorena-SP.
[2]LEME, Luiz
Gonzaga da Silva. Genealogia Paulistana V. 2.º pág 123
[3] Paranhos,Paulo.
Primeiros Núcleos Populacionais no Sul de Minas Gerais www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao07/materia03/texto03.pdf
-2/7/2007
10:14
[4] Códice Costa Matoso. Coleção das notícias dos primeiros
descobrimentos das minas da América que fez
o Doutor Caetano da Costa Matoso
sendo Ouvidor –Geral das de Ouro Preto,
de que tomou posse em fevereiro de 1749& vários papéis.Belo Horizonte :
Fundação João Pinheiro.1999,p.183.
[5]
Id.,p.183.
[6] Ibid,
p.184.
[7] É
impotante saber que estudos da genealogia Paulista nos mostra que Simão da
Cunha Gago nasceu em Mogi das Cruzes,
antiga Vila de Sant’Anna de Mogy Mirim, importante ponto de parada para os
exploradores dos Sertões em ir e vir a São Paulo de Piratininga.
[8] Etimologia: casa de papagaio
[9] Pizarro,
José de Sousa Azevedo. Memórias
Históricas da Província do Rio de Janeiro, 1820.Taunay dá a chegada de Cunha
Gago e expedição ao Campo Alegre por volta de 1740 oriundo de Aiuruoca –
Hist.do café no Brasil,vol.II,p.141.
[10] Pizzaro
e Araújo, Jose de Sousa Azevedo: Memórias Históricas do Rio de Janeiro.
Rio,1820.
[11] “A ordem de 9 de abril de 17 45 proibiu de usar-se do caminho
que , das minas se Aiuruoca abriram Antonio Gonçalves de Carvalho e outros
sócios para o Rio de Janeiro e costas do mar." Pizzaro : Memórias Históricas do Rio de Janeiro.
Rio,1820. Maneira encontrada pelo governo colonial para coibir o desvio e o
contrabando do ouro das Minas Gerais.p.38
Sou descendente de Fellipa Gago, acho que é gente ligada a fundação de Campo Alegra da Paraíba Nova.
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