quarta-feira, 1 de novembro de 2017

TIRO DE GUERRA 451 Resende RJ – Patriotismo e Civismo em um só lugar


por : Julio Cesar Fidelis Soares[4]


Os Tiros de Guerra são originários das Linhas de Tiro criadas em 1902 no Rio Grande do Sul, com objetivo de treinar jovens das maiores cidades de cada região no exercício de tiro com vistas a formarem-se reservistas. A partir daí evoluem para os famosos  Tiros de Guerra, instituição militar do Exército Brasileiro  encarregada de formar reservista para o corpo de tropa do Exército Nacional. Suas organizações transcorrem com apoio das administrações Municipais e o Comando Militar da Região, sendo por este fornecidos os instrutores, fardamentos e equipamentos e por parte do município as instalações adequadas a tal empreendimento. Os Tiros de Guerra constituem importantes pólos difusores do civismo, da cidadania e do patriotismo coisas meio fora de moda, mas tão importante para um país que deseja alçar voos maiores. É o tipo de organização cívica que procura dar aos munícipes conhecimentos dos problemas locais, fazendo-os interessados nas aspirações e realizações de sua comunidade, como cidadãos integrados à realidade nacional. Além de prepará-los na intenção  de formar estes líderes democratas, atentos aos ideais da nacionalidade brasileira e à defesa do Estado Democrático de Direito.
Então dentro destes conceitos e objetivos é que se criou em 1 de abril de 1917, a linha de tiro Brasileira de Resende, teve como comandante um sargento da Força Pública do Estado do Rio de Janeiro. A organização local ficou a cargo do Prefeito Dr.Eduardo Cotrim Filho que dava apoio a esta estrutura funcionar no município. Quando o Brasil declara guerra à Alemanha[1] a linha de tiro de Resende recebeu a conscrição de 130 homens  para treinamento aos preparativos de guerra de modo terem condições de servir ao chamado da pátria.



Fig.1 Trecho Ata da Câmara Municipal de Resende registra ofício da Linha de Tiro de Resende em manifestos contra o afundamento do navio “Paraná” na 1ª Guerra Mundial. Fonte: Arquivo Histórico de Resende.

Em 1929 passado onze anos do final da Primeira Guerra fundou-se em Resende o Tiro de Guerra 451 , sendo seu primeiro presidente o Dr.Jose Alfredo Sodré, que procurou incentivar a juventude resendense a prestar serviços à pátria.
Instalado o Tiro de Guerra 451 e oficialmente ligado a Diretoria Geral do Tiro de Guerra,o processo deveu-se aos esforços de Jose Rizzo  e do Sargento do Exército Arnaldo Braga que foi instrutor de tiro  do Tiro de Guerra de Barra Mansa. O stand de tiro foi localizado na Fazenda do Castelo por cessão  do Coronel Abilio Godoy ao Ministério do Exército.
Sua estrutura ficou assim constituída: presidente Alfredo Sodré, vice-presidente Jose Rizzo, secretário João T. de Andrade e tesoureiro Heitor Vieira, neste momento passou a servir como instrutor o Sargento do Exército José Veloso Filho, segundo relato foram inscritos 145 sócios e 54 atiradores.
Fig.2 Turma do Tiro de Guerra 451 em 1929 Resende-RJ.
Os jovens da cidade já estavam acostumados e ficavam empolgados, pois desde 1909  Resende recebia contingentes do Exército. Segundo Itamar Bopp neste ano a cidade recebeu um pelotão de pontoneiros do 1º Batalhão de Engenharia sediado no Rio de Janeiro, fazendo exercícios de lançamento de pontes na região do Surubi, Três Morros e Campos Elíseos.
Em 1917 a recém fundada linha de Tiro de Resende participa das comemorações do dia da Bandeira fazendo cumprir, portanto seus objetivos como pólo difusor de civismo, ainda mais quando a população do município saiu à rua com a Bandeira Nacional em demonstração de protesto ao governo da Alemanha que tinha torpedeado navio Brasileiro “Paraná”.

Em 1917 a recém fundada linha de Tiro de Resende participa das comemorações do dia da Bandeira fazendo cumprir, portanto seus objetivos como pólo difusor de civismo, ainda mais quando a população do município saiu à rua com a Bandeira Nacional em demonstração de protesto ao governo da Alemanha que tinha torpedeado navio Brasileiro “Paraná”.
Neste mesmo ano Resende, segundo Bopp é visitada por um piquete de Cavalaria do Exército sob o comando do Tenente Genserico Vasconcelos,que empreenderia um raid São Paulo – Rio de Janeiro. Foi recebido na entrada de Campos Elíseos pelo Dr. Alfredo Sodré futuro diretor do Tiro de Guerra 451. E ainda neste ano 1917 no Grupo Escolar Dr.João Maia é formado o “Batalhão Escolar”, militarmente armado e instruído pelo Instrutor da Linha de Tiro Sargento Romário Porto membro do destacamento da Brigada Policial do Rio de Janeiro.
Em outro momento deste mesmo ano 1917 a cidade envia seu primeiro contingente para o serviço militar obrigatório, onde neste momento solene houve desfile dos alistados ao som da Banda de Musica “Santa Cecília” e discurso s onde falaram em prol do valor do serviço a pátria o Coronel Mendes Bernardes, presidente de a Junta Militar de Alistamento, o Sr. Mario de Paula deputado, o jornalista Alfredo Sodré e Amadeu Alvarenga.
Vendo que Resende sempre teve uma vocação militar, que acabava por chamar a atenção dos jovens do local, a exemplo disto, acantona-se na cidade um grande pelotão de cadetes da Escola Militar do Realengo que sob o comando do Tenente Vilaboim estavam a empreender a título de exercício de marcha um raid Rio-São Paulo. 
Outro exemplo interessante foi a presença de oficiais do exército  conforme dito por Bopp na região de Marechal Jardim(hoje Engenheiro Passos) e Campo Belo(hoje Itatiaia) de modo a analisarem os locais para manobras da 3ª Divisão de Exército, cujo contingente era estimado em 5.500 a 6.000 homens das diversas armas.
Bopp também nos relata a solenidade de juramento a Bandeira Nacional da primeira turma de atiradores do Tiro de Guerra 451. Houve missa solene rezada na Matriz, onde em momento solene foi entregue aos atiradores a Bandeira Brasileira confeccionada em seda e oferecida pelas senhoras de Resende. Em seguimento a atividade cívica no grupo escolar Dr.João Maia foi prestado o juramento pelos membros do Tiro de Guerra. Sob comando do instrutor o Sargento do Exército Luiz Barbosa. 
Dos jovens resendenses que fizeram parte das turmas do  Tiro de Guerra 451,temos a figura de um ilustre resendense o celebre fotógrafo Flavio Guerreiro Maia, em nossas pesquisa chegamos a uma fonte importante para nossos estudos a caderneta de tiro do atirador Flavio Maia,tal documento foi possível consultar a partir do  acervo do Arquivo Histórico Municipal de Resende. Assim neste momento é possível ensaiarmos algumas análises da Caderneta Militar. 
Primeiramente devemos entender o que uma “Caderneta de Tiro”, que na verdade é uma espécie de diário do atirador, onde este registra todas as atividades de treinamento com a sua arma,posicionamento de tiro, registro das salvas dadas e grau de acerto e erros. Neste caso a caderneta traz seu número de registro, ano das atividades, a companhia do atirador, e a que atirador pertence. Registra também que tipo de arma foi usada, fuzil ou mosquetão. Nas folhas de registro de treinamento aparece se o exercício é de grupamento ou individual, a distância, a alça,o número da arma, posição em pé ou deitado com arma apoiada ou não. Também figura os registros dos diâmetros dos círculos dos escantilhões, 4,8,12 ou 16 centímetros e ainda a quantidade de tiros acertados. 

Da caderneta de Flávio Maia obtivemos as seguintes informações: nome do incorporado e categoria,classe, que neste caso é a de 1911,número de registro da caderneta 2138 série A e a unidade. No caso em análise é 1ª Divisão,2ªBrigada de Infantaria,1º Batalhão de Caçadores, Tiro de Guerra 451 – Resende-RJ. Já na folha de identificação do atirador registra-se : Nome do atirador(Flávio Guerreiro Maia),altura(1,80),cabelos(castanhos),barba(imberbe),bigodes(nãotem),cor dos olhos(castanhos),boca(pequena),rosto(oval),nariz(pequeno). Além destes registros de descrição física havia também informações de cunho intelectual: Lê?,Escreve?,Conta?. 


Na página de declarações figura informações como: filiação, naturalidade, profissão, estado civil, se foi vacinado e se sabe nadar. Na parte de registro de aproveitamento de instrução, temos o grau de aproveitamento e data do compromisso  à bandeira. Em outra página registra-se onde se apresentar em caso de mobilização que no  presente caso seria o 1º Batalhão de Caçadores[2].


Hoje acredito na importância cada vez maior deste tipo de organização que é formada basicamente pelas comunidades municipais e as autoridades militares em sua representação do Estado constituído. Um país como nosso entre as maiores economias do mundo e rico em minerais estratégicos necessita urgentemente destas escolas de patriotismo e civismo com vista à defesa do que é nosso e de nossos valores como nação e naquilo de devemos legarem as gerações futuras de brasileiros. Países ricos em poder, mas pobres em caráter hoje e sempre voltam seus olhares às riquezas naturais do povo brasileiro ainda mais vendo o descaso dos governos ou mesmo a conivência na distribuição daquilo que dos brasileiros por direito. Assim acredito na necessidade histórica de mostrarmos a população à verdadeira necessidade de nos organizar para defesa de nossa terra com força bem equipadas e treinadas para defender o Brasil em qualquer parte do país, situação pensada no passado na constituição dos famosos  Batalhões de Caçadores[3].



Bibliografia:
Arquivo Público de Resende, Fundação Casa de Cultura Macedo Miranda, acervo documentação da Câmara Municipal de Resende.
Bopp, Itamar.  Casamentos na Matriz de Resende.  Instituto Genealógico Brasileiro, 1971.
_____________.REZENDE — OS CEM ANOS DA CIDADE — 27-VIII-1948 de colaboração com o Coronel José Alfredo Sodré.
Fontes telematizadas:
Linhas de Tiro:
Tiro de Guerra:
Tiros-de-Guerra—O Apoio da População: Vital à Vitória Militar-General-de-exército Paulo Cesar de Castro (reserva) :



[3] No Brasil, os três primeiros Batalhões de Caçadores foram criados pelo Decreto de 13 de outubro de 1822, que determinou que os três Batalhões de Fuzileiros da Guarnição da Corte assim passassem a denominar-se. Iniciava o Decreto: “Mostrando a experiência que as Tropas Ligeiras são as mais análogas ao local, e systema de defeza desta Província...”Esse tipo de tropa foi bastante usado no país, devido o Brasil não possuir potenciais inimigos externos; sendo as forças armadas empregadas principalmente em operações de defesa interna.Com a segunda guerra mundial as unidades de Caçadores foram todas transformadas em de infantaria; permanecendo a designação apenas na tradição de alguns batalhões.Recentemente, esse termo passou a denominar o combatente especialista em tiro de precisão do Exército; o qual em geral atua em dupla e é responsável por emboscar e inquietar a tropa inimiga.Um caçador é um tipo de soldado de cavalaria ou de infantaria ligeira existente nas forças armadas de alguns países. Podem existir várias especialidades de caçadores, como os caçadores a pé, os caçadores a cavalo, os caçadores de montanha e os caçadores paraquedistas.


[2] Criado ainda no Brasil Império, em 28 de fevereiro de 1838, é uma das mais antigas Unidades da Arma de Infantaria do Exército Brasileiro, tendo como seu elemento formador o 1º Batalhão de Caçadores, organizado nesta data em Desterro, hoje Florianópolis-SC.Nasceu catarinense e hoje é um orgulhoso sergipano. Passou por diversas transformações sem jamais perder o seu elã, sempre defendendo a Pátria. Esteve na Côrte, passou por Cuiabá e chegou nesta cidade de Aracaju em 09 de março de 1917, com a denominação de 41º Batalhão de Caçadores, sendo finalmente transformado no 28º Batalhão de Caçadores em 31 de dezembro de 1921.Em 1920, fruto de nova reorganização do Exército, passou a denominar-se 1º Batalhão de Caçadores (1º BC), sediado-se em São Gonçalo. Em 1922, retornou novamente à cidade do Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, o então Ministro da Guerra, João Pandiá Calógeras, atendendo a uma velha aspiração dos petropolitanos, efetivou a compra da Fazenda Presidência, da família Justen e a construção do Quartel, onde compareceu à Petrópolis para inaugurar as instalações do 1ª Batalhão de Caçadores. Em 1923, o 1º BC foi transferido definitivamente para a cidade de Petrópolis, vindo a se instalar no novo aquartelamento em 9 de julho de 1924. Durante a Revolução de 1930, cumprindo determinação do Governo Federal, deslocou-se para Belo Horizonte, onde atuou bravamente, nos combates de Benfica e Mariano. Mais tarde, durante a Revolução Constitucionalista de 1932, destacou-se nos combates de Sant´Anna dos Tocos(Resende-RJ), Passa Vinte(MG) e Itagaçaba(Cruzeiro-SP).




[1] No dia 05/04/1917, um dos maiores navios da frota Mercante brasileira, o Paraná, com 4.466 toneladas, carregando café, foi torpedeado por um submarino Alemão na costa Francesa. Três tripulantes morreram. Os agressores ainda dispararam cinco tiros de canhão contra os náufragos. Em 1 de junho de 1917 o Brasil declarou guerra aos países da Tríplice aliança.http://www.naufragiosdobrasil.com.br/1guerranavbrasil.htm


[4]Mestre em História Social , membro da Academia Resendense de História,IEV (Instituto de Estudos Valeparaibanos)e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil.