Julio
Cesar Fidelis Soares[1]
Segundo
registros do final do século XVIII em dois de outubro de 1788 foi assinado o ofício de criação da aldeia de
São Luis Beltrão, por ordem do quarto Vice-Rei, Luiz de Vasconcellos e Souza.
Cabendo a tarefa ao Capitão e Sargento-mór em comissão Joaquim Xavier Curado
organizar o aldeamento para os índios. O aldeamento tinha como objetivo o confinamento dos índios, e para isto foi
nomeado um curador dos índios, Mariquita líder dos Puis, aceitou se aldear e
escolheu permanecer em terras que habitava anteriormente. Assim, se instalaram
os indígenas nas margens do ribeirão São Luiz, um afluente do rio Preto, onde
receberam o padre Henrique José de Carvalho curador de índios, encarregado de
catequizá-los e civilizá-los. Este levantou a capela da aldeia, que teve por
orago São Luiz Beltrão. Então quem foi São Luiz Beltrão? São Luiz Beltrão era
natural de Valência, na Espanha, era filho de um tabelião da mesma cidade e
veio ao mundo em 1526. Nos primeiros anos da infância dava indícios
indubitáveis de futura santidade. Sete anos tinha, quando começou a recitar
diariamente o ofício de Nossa Senhora. O prazer do piedoso menino era ir à
igreja. Às práticas de piedade aliava uma obediência incondicional aos pais,
amor às mortificações, ao estudo e à leitura espiritual. Sempre que podia,
trocava a cama pelo soalho, procurando em tudo imitar o seu santo parente
Vicente Ferrer.
Fig.1 Igreja dedicada a São Vicente Ferrer Padroeiro da Vila da Fumaça.
Mocinho
afastou-se clandestinamente da casa paterna, em demanda de uma solidão, onde
pudesse mais desembaraçadamente se entregar a exercícios de piedade e de
penitência. O pai descobriu-lhe o esconderijo e obrigou ao filho a voltar para
casa, não podendo, entretanto, evitar mais tarde que entrasse para a Ordem
Dominicana. Os progressos de Luiz na virtude e na perfeição religiosa foram
tais, que sete anos depois da entrada na Ordem, foi nomeado Mestre do
Noviciado. Com grande proficiência desempenhou-se por diversas vezes da missão
de missionário. Além de dispor de grandes recursos retóricos, possuía o dom de
ler nas consciências e de predizer coisas futuras.
Fig.2 Iconografia de São Luiz Beltrão, membro da Ordem dos frades Dominicanos.
Segundo
a hagiografia no ano de 1557 a peste assolou a cidade de Valência. Luiz
aproveitou-se da ocasião, para praticar obras heroicas de caridade. A terrível
epidemia poupou-lhe a pessoa; mas logo que as coisas se normalizaram, pediu aos
superiores que o destinassem às missões entre os indígenas da América. Como
recompensa dos serviços prestados nos dias da peste, obteve o que pedira. Em
1562 partiu para as índias ocidentais, em companhia de outros sacerdotes da Ordem
Dominicana. Ardia-lhe no coração o desejo de salvar almas e de dar a vida em
testemunho da fé que pregava e grande foi o número de pagãos que ganhara para a
religião de Cristo. Pouco antes de morrer, virou-se para os irmãos de Ordem e
disse: “Rezai por mim, meus irmãos, para que Deus não me condene”. São Luiz
Beltrão morreu em 9 de Outubro de 1581, conforme predissera. O Papa Clemente X
o canonizou com Santo da Igreja em 1671. Sua festa é comemorada em 9 de Outubro e é o padroeiro da Colômbia.
Fig.3 Guardado pela população local esta é a imagem de devoção de São Luiz Beltrão padroeiro do Aldeamento. É uma figura em estilo barroco em talha de um só bloco de madeira período sugerido de sua confecção seria século XVIII, mas é necessário avaliação de profissionais da História da Arte.
São Vicente Ferrer o parente de
Santo de São Luiz Beltrão
São
Vicente Ferrer nasceu em Valência, na Espanha, em 1350. Era filho de Guilherme
Ferrer e Constância Miguel. De família nobre, Vicente foi o quarto filho do
casal. Seu irmão, Bonifácio Ferrer, foi Superior dos frades Capuchinhos e
realizou importantes missões diplomáticas para o antipapa Bento XIII. Sua vida
é um testemunho de que a ciência e a sabedoria não são contrárias à fé, mas sim
a complementam.
Depois
de sua profissão religiosa, que aconteceu em 1368, até chegar o tempo de ele
ser ordenado padre, em 1374, São Vicente ensinava filosofia e estudava teologia
nas regiões de Lérida, Tolosa e Barcelona. Com um conhecimento da exegese
bíblica que chegava à perfeição e, igualmente, possuindo um profundo
conhecimento da língua hebraica, ele voltou para Valência em 1373. Lá, lecionou
teologia, fez inúmeras pregações, escreveu suas obras e aconselhou aos que o
procuravam. São Vicente ensinou teologia na escola que funcionava na Catedral
de Valência, de 1385 a 1390. Ele foi convidado para ser o confessor apostólico
de Bento XIII, que era, na verdade, um antipapa, na cidade de Avignon, França.
Vicente não aceitou o cargo e ainda recusou a chance de se tornar cardeal,
percebendo que Bento XIII não tinha realmente a autoridade papal vinda dos
apóstolos.
São
Vicente adoeceu e por pouco não morreu durante a invasão de Avignon, mas ele se
recuperou milagrosamente. A história diz que ele teve uma visão de Jesus Cristo
junto com São Francisco de Assis e São Domingos. Na bendita visão ele teria
sido orientado a pregar o Evangelho fervorosamente. Porém, ele encontrou a
resistência do antipapa que relutava em dar a sua permissão para Vicente deixar
Avignon. Em 1389, Bento XIII finalmente deu a sua permissão e Vicente saiu em
pregação por todas as regiões da Europa do Ocidente. Com muita sabedoria e
eloquência ele atraia multidões, ficando bem conhecido no meio cristão.
Ao
ouvirem sua voz, as inimizades públicas cessavam, reconciliando-se. Os
pecadores sentiam-se movidos ao arrependimento e as pessoas sedentas de
perfeição o seguiam. Às vezes mais de 15.000 pessoas se juntavam para ouvi-lo,
o que naquela época, era coisa difícil de acontecer. Contemporâneos de São
Vicente Ferrer relatam que, mesmo quem não falava sua língua podia entendê-lo.
O milagre de São
Vicente Ferrer
São
Vicente Ferrer foi um dos santos que mais trabalhou pela conversão dos judeus e
dos muçulmanos. E ele fez isso com todo o seu coração. Alguns historiadores
chegam a afirmar que converteu cerca de
25.000 judeus e mais de 8.000 islamitas. Por ocasião do Domingo de Ramos de
1407, estando ele em pregação na igreja de Ecija, Espanha, uma mulher judia,
cheia de riquezas e poder, ia assistir os sermões de São Vicente por mera
curiosidade. Ela fazia questão de manifestar sarcasmos e desprezo pelas
palavras de São Vicente Ferrer. Por fim, ela atravessou no meio do povo para ir
embora. Estava claramente cheia de raiva e não se continha. Todos os presentes
ficaram indignados. Mas São Vicente disse bem alto: "Deixai-a sair, porém
afastai-vos do pórtico". O povo obedeceu. Quando a mulher passou sob o
pórtico, este caiu sobre ela, e ela faleceu. Ela permaneceu por vários minutos
ali, morta, sem batimentos cardíacos confirmados por várias testemunhas. São
Vicente caminhou até o corpo da mulher e ordenou com voz forte e poderosa:
"Mulher, em nome de Jesus Cristo, volte à vida!" E a mulher
ressuscitou. Todos ficaram maravilhados. Após o milagre, a senhora se converteu
ao catolicismo. Todos os anos, em Ecija, uma procissão comemorava o
extraordinário fato da morte e conversão da mulher judia.
Fig. 4 Iconografia Medieval de São Vicente Ferrer, santo da Ordem dos Frades Dominicanos.
São Vicente e organização do Poder
da Igreja
São
Vicente Ferrer foi nomeado como juiz para escolher o sucessor da coroa de
Aragon. Ferdinando I foi coroado rei. Seu grande feito foi por fim ao Cisma que
dividia a Igreja desde o ano de 1378. Vicente pediu publicamente para que o
papa Bento XIII renunciasse ao pontificado para o bem geral da Igreja Católica.
Ele pregou no Concílio de Constance, em 1418, para a reconciliação da Igreja.
Vicente
Ferrer faleceu em Vannes Bretanha, em 1419, e foi canonizado na igreja
dominicana de Santa Maria Sopra Minerva, em Roma, a 3 de Junho de 1455, pelo
Papa Callistus III. Porém, sua festa celebrada no dia 6 de abril só foi
autorizada pelo Papa Pio II, em 1458.
Assim
em nossa cidade de Resende pela Lei Provincial n.º 287, de 19-05-1843 do período
do Império do Brasil e depois por Decretos Estaduais n.º s 1, de 08-05-1892 e
1-A, de 03-06-1892 na República, é criado o distrito de São Vicente Ferrer e
anexado à vila Arraial de Campo Alegre. Pelo Decreto-lei Estadual n.º 641, de
15-12-1938, o distrito de Santana dos Tocos passou a denominar-se Salto e São
Vicente Ferrer a denominar-se Vila da Fumaça, em homenagem à cachoeira
existente no local. O mais importante é que estes padroeiros nunca foram esquecidos eles são alvos de culto e veneração e portanto suas imagens além de patrimônio histórico cultural são representantes legítimos de arte sacra.
Fig. 5 Missa na Igreja de São Vicente Ferrer padroeiro da Vila. Fonte: Facebook Vila da Fumaça-Resende-RJ
Bibliografia
ALMEIDA,
Maria Regina Celestino de. Metamorfoses Indígenas: identidade e cultura nas
aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 2003.
LEMOS,
Marcelo Sant’ana. O índio virou pó de café? (A resistência dos índios Coroados de
Valença frente à expansão cafeeira no Vale do Paraíba. 1788-1836). Rio de
Janeiro: UERJ, 2004. Dissertação de mestrado.
Oliveira,
Enio Sebastião Cardoso, O aldeamento de São Luís Beltrão : os índios Puris e a
política
indigenista
de 1788 a 1808 em Campo Alegre da Paraíba Nova
– Vassouras, 2012.
SILVA,
Joaquim Norberto de Souza e Silva. “Memória Histórica e Documentada das Aldeias
de Índios do Rio de Janeiro”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do
Brasil. Rio de Janeiro.v. 62, 3ª série, n.14, 1854. p. 242-249.
Hagiografia
: Santos y Santas de la Orden - http://www.dominicos.org/grandes-figuras/santos
[1]
Vice-Presidente da Academia Resendense de História, membro da Academia de
História Militar Terrestre do Brasil, do Instituto de Estudos Vale Paraibanos.
Mestre em História Social (USS),Economista professor universitário. Gestor do blog Resende História do Vale do
Paraíba :http://paraibanova.blogspot.com.br/
boa tarde, pesquiso a genealogia de minha familia e procuro informaçoes sobre antepassados nascidos no periodo de 1800 a 1900 na antiga fazenda sao vicente de ferrer, existe na paroquia algum registro historico dessa epoca ou em algum outro local de preservaçao historica de sao vicente ferrer/fumaça?
ResponderExcluirgrato
flavio arjones flavioarjones@gmail.com
Boa noite,
ResponderExcluirTambém estou procurando documentos de antepassados que se casaram na Igreja Matriz de São Vicente Ferrer. Há livros de registros na igreja?
Monica