quinta-feira, 8 de maio de 2014

O florete e o Imperador



Julio Cesar Fidelis Soares**
**Economista,Mestre em História Social – Professor de História do Pensamento Econômico,História Econômica Geral,Formação Econômica do Brasil , Desenvolvimento Econômico. Docente do Centro Universitário Geraldo Di Biasi - Volta Redonda e Barra do Piraí e CETEP ResendeRJ FAETEC.
Membro da Academia Resendense de História,da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e do Instituto de Estudos Valeparaibanos.

Nosso texto relata o episódio da visita do Imperador D. Pedro II que em 16 de outubro de 1874, que em visita a Cidade de Resende concede uma série de distinções a membros da comunidade local bem como a Loja Maçônica local. Nosso estudo vai do interesse em reforçar pesquisas anteriores, que mostram os laços de poder e a interação da cidade de Resende, através de sua elite com o poder imperial. Ao ponto do monarca vir prestigiar a sociedade resendense e agraciá-la, através de sua Loja Maçônica, com uma honraria do cerimonial da Corte, como forma de reforço das relações de poder vigente à época.
Símbolos do Poder:
As insígnias englobam objetos usados como sinais distintos, individuais ou coletivos que distinguem funções, postos, comandos e, sobretudo ligações de poder com as instituições de mando de uma sociedade.  No caso da nobreza brasileira do segundo reinado tais insígnias refletem a preocupação em valorizar a Nação bem como os dignatários ligados às instituições que formavam o poder constituído.  Assim, além das condecorações, direitos de uso de brasões, estandartes, flâmulas e vestimentas especiais, existiram a praxe da distinção com armas brancas cerimoniais como espadins e espadas à fidalguia da corte brasileira.

Fig.1- Serviçal da Casa Real acompanhado de sua escrava, nota-se claramente na bagagem carregada pela escrava a Alabarda e a Espada de Corte de seu dono e senhor. Imagem produzida por Jean B. Debret - “Aspectos da  Corte”.
A Resende de 1874
Segundo o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial Laemmert, o município tinha uma população de 25.000 habitantes divididos por suas freguesias de Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre, São Jose do Campo Bello, Senhor Bom Jesus do Ribeirão de Sant`Anna, Santo Antonio da Vargem Grande e São Vicente Ferrer.
“Sobre um terreno notavelmente accidentado, cujo solo em sua maxima parte se pode chamar argilo-ferruginoso, o município de Rezende produz o melhor café , excellente canna de assuçar, cereaes e legumes de toda espécie.  Nas planuras do Itatiaya abundão as pastagens nativas, offerecendo assim recurso naturaes para a criação de toda espécie de gado; algumas fructas da Europa como maçã , o marmelo [...] .” (1)
 (1)Almanak Laemmert, edição 1874, Município de Rezende, p.125.
É importante destacarmos também que em outro trecho do mesmo almanaque ele nos traz notícia do plantio de parreiras cuja produção era abundante, e que houve algumas tentativas de produção de vinho, que se assemelhava ao do Rheno só que muito mais aromático segundo os editores do almanaque.
Figura 2 . Aspectos de Resende na Década de 1920 do século XX ainda guardando muito do século XIX.

O Casario
Ao estudarmos relatos sobre a cidade vimos que muitas casas eram remanescentes do período inicial da constituição da Vila de N. S. da Conceição do Campo Alegre, pois nos foi relatadas da seguinte forma pelo autor do almanaque “[...] bem pouco sólidas, pelo uso ainda em voga dos antigos e condemnados baldrames de madeira[...]”(2) .
(2)Idem, Almanak Laemmert, edição 1874, Município de Rezende.


Fig. 3 e 4 . imagens de Resende no século XIX, Casario na altura de antiga Rua Direito hoje XV de Novembro e Largo do Pelourinho hoje Praça do Centenário.

O Fato:
No dia 16 de Outubro de 1874, quando as chuvas são quase como certas em Resende, veio a notícia de que havia chegado à estação da ferrovia um comboio com vagão especial trazendo S. M. Imperial Dom Pedro II e sua comitiva. Momento este que ficou conhecido muito mais pela situação em que se encontrou a Comitiva Imperial ao encalhar-se num atoleiro que se fez com as chuvas na então Rua do Presidente, hoje Av. Albino de Almeida.
A comitiva de Sua Majestade fez inúmeras visitas, ao que parece que foi a oportunidade de conhecer o pai da poetisa Narcisa Amália, Professor Jacome Campos, que por relevantes serviços prestados foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo. Em outra oportunidade, o Imperador, que era um admirador da poetisa, quis cumprimentar a jovem, que morava nos fundos de uma padaria de propriedade de seu marido  na Rua da Misericórdia, localizada no Bairro Lavapés onde conforme o Almanak Laemmert  de 1874 existia um dos mais notáveis edifícios públicos, a Santa Casa de Misericórdia – “...vasto edifício, que apenas a terça parte acha-se em serviço.”
Figura 5 . Bairro Lavapés e sua famosa Rua da Misericórdia hoje R,Eduardo Cotrim. 

Sabedor da importância política, econômica e cultural de Resende é que pensamos que D. Pedro II resolve conhecer a Loja Maçônica  Lealdade e Brio que congregava os elementos de maior influência e expressão não só da sociedade local, bem como da região cafeeira do Vale do Médio Paraíba. Nesta época a já famosa Lealdade e Brio, localizada “ao Valle de Rezende” e pertencente ao Oriente unido do Brazil, tinha como dirigentes Dr. Jose Domingues dos Santos Junior (Vereador), Venerável Mestre; Dr. João Leme da Silva, primeiro Vigilante; Antonio Fernandes Carneiro Braga, segundo Vigilante; Flausino Jose Corrêa, Orador; e Sr. Alfredo Baptista da Silva (Escrevente Juramentado), Secretário. Formada a Comissão de Recepção a S. M. Imperial, a Lealdade e Brio preparou seção solene e festiva para receber a mais alta autoridade que jamais fora visitar autoridade que embora não pertencesse a ordem era “sobrinho ilustre” no jargão maçônico, filho do mais famoso Grão-Mestre Geral da Ordem, D. Pedro I.




Fig.6. Foto de D.Pedro II em 1876 dois anos depois de sua visita a Resende,acervo museu Imperial de Petrópolis.





Num clima de euforia, festiva e solene é que se dá a visita do Imperador Pedro II à Loja Maçônica Lealdade e Brio, fato ímpar não só no Vale do Paraíba como um todo e até mesmo na Corte, pois pelo que se sabe, embora vivesse ladeado por maçons das mais altas cepas como seus membros de governo nunca ele foi por vontade própria à sede da Maçonaria no Grande Oriente do Brasil localizado na Rua do Lavradio – o famoso “Palácio do Lavradio”. Entretanto, estando em Resende, manifestou a vontade de conhecer a Loja Maçônica e seus membros, por saber que tais componentes eram a expressão do poder em toda a Região do Vale, pois as lojas maçônicas foram grandes centros de discussões e de tomada de decisões, a respeito da vida política regional e nacional.


Fig.7 – imagem de punhos de floretes semelhantes ao presenteado por D. Pedro II  à  Loja Maçônica  Lealdade de Brio de Resende, província do Rio de Janeiro em 1874.


Fig.8 – imagem do punho de florete presenteado por D. Pedro II  à  Loja Maçônica  Lealdade de Brio de Resende, província do Rio de Janeiro em 1874.


O mais interessante nesta história é que poucas instituições receberam tal distinção do Imperador, uma que me recordo é a Irmandade de N. S. do Pilar de Ouro Preto; pois lá vi o registro de visita do Imperador e o espadim que presenteou a Irmandade e seus membros, o importante é notar que não era usual dar tal honraria a instituições, pois esta distinção era voltada a pessoas físicas que as recebiam como marca do título recebido do monarca. O segundo presente vejo como outro sinal de apreço com valor simbólico super interessante, ele presenteia a Loja com um sabre da sua Guarda de Honra, ou seja, de sua guarda pessoal. Fato que não me espanta, pois D. Pedro II, como estudioso e historiador que era, sabia do valor de peças simbólicas dentro da estrutura da maçonaria e também sabia do impacto político que tal ato acarretaria em toda a região, ainda mais em Resende que era base de um forte grupamento da Guarda Nacional e que tinha grande influência política nas figuras de seu Comandante Superior Coronel Fabiano Pereira Barreto, do Barão de Bananal Tenente Coronel Luiz da Rocha Miranda, comandante do 11º Corpo de Cavalaria de Resende, e do Capitão da GN Domingos Gomes Jardim.
Referências Bibliográficas.
Almanaque Laemmert. 1845-1885

Arquivo Público de Resende, Fundação Casa de Cultura Macedo Miranda, acervo documentação da Câmara Municipal de Resende.

Bopp, Itamar.  Casamentos na Matriz de Resende.  Instituto Genealógico Brasileiro, 1971.

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Costa, Frederico Guilherme. A Maçonaria e a Emancipação do Escravo. Londrina: Editora Maçônica A Trolha Ltda., 1999

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________. Notícias Históricas e Estatísticas do Município de Resende desde A sua Fundação . Rio de Janeiro, 1891 [ Monografia] .

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Whately,Maria Celina, O Café em Resende no Século XIX, Ed.José Olympio, Rj, 1987.

Whately,Maria Celina, Resende, A Cultura Pioneira do Café no Vale do Paraíba, Niterói-RJ :Ed Gráfica La Salle , 2003.

Zaluar, Emilio.  Peregrinação pela Província de São Paulo,1860-61.  São Paulo, 1953.

Revista Resende 200 anos, CAT Publicidade, 2001.

8 comentários:

  1. Professor Júlio, o quadro que ilustre a Rezende de 1860 é do Nunes de Paula?

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Removido por Duplicidade:"Professor Júlio, o quadro que ilustra a Rezende de 1860 é do Nunes de Paula?"

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  3. Imagem4 . imagens de Resende no século XIX, Casario na altura de antiga Rua Direito hoje XV de Novembro e Largo do Pelourinho hoje Praça do Centenário. Seria a Casa de Câmara e Cadeia?

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  4. Meu nobre colega pesquisador. Qual a fonte histórica para esta narrativa da visita imperial à loja maçônica?
    Sou historiador de São João da Barra, terra natal de Narcisa.
    Pode me chamar no zap (22) 997808656

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