Por : Julio Cesar Fidelis Soares
Resumo
O
presente artigo busca um pouco da história da Revolução de 1932, que ocorreu em
grande parte do território do Vale do Paraíba, nas áreas fronteiriças entre os
estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, exatamente nas terras de
Resende-RJ, alvo estratégico na visão
militar paulista e das tropas governistas. A intenção é chamar atenção para participação da Aviação do Exército na Revolução e seus
protagonistas em ação no Médio Vale do Paraíba, mais precisamente no aeródromo
de Resende-RJ.
Palavras – chave: Aviação – revolução - representação social
Sommaire
Cet article cherche un peu
de l'histoire de la Révolution de 1932, qui s'est produite dans une grande
partie du territoire de la vallée de Paraíba dans les zones frontalières entre
les États de Rio de Janeiro, São Paulo et Minas, exactement dans les terres de
Resende, qui était une cible stratégique dans la vision.Force militaire
pauliste et troupes gouvernementales. L'ouvrage vise à attirer l'attention sur
la participation de l'aviation militaire à la Révolution et de ses
protagonistes en action dans la vallée moyenne de Paraíba, plus précisément à
l'aérodrome de Resende dans l'État de Rio de Janeiro.
Mots-clés : Aviation –
révolution – représentation sociale
Para darmos início ao nosso breve estudo, há de se buscar, para um
entendimento, as causas e objetivos do movimento revolucionário. Um assunto
complexo que procuraremos dar uma noção ao leitor. Assim sendo, já alertamos
que não é possível entender a Revolução de 1932 sem saber dos fatos e ações que
movimentaram a Revolução 1930. Um drama brasileiro realizado em dois atos, como
disse Aureliano Leite em seu trabalho que também nos diz que a Revolução 1932 é
uma projeção domovimento da Proclamação da
República, ou seja, faz parte de todo um processo dinâmico de reorganização dos
subgrupos políticos, dentro do movimento Republicano.
Mas, além disto, temos
pelos menos dois fatores exógenos que dão rastilho a Revolução de 1930:
1)
A crise econômica do café, que podia ser atenuada por providências
governamentais;
2)
O clima internacional, dado o espírito de imitação do brasileiro
ou o contágio de
movimentos revolucionários vitoriosos na Argentina, no Chile, etc…
Somados todos os fatos, triunfou em 1930 o movimento
Revolucionário da Aliança Nacional e dá-se início ao processo daquilo que irá
se chamar de Revolução Constitucionalista que teve por objetivos, além de entregar São Paulo a si mesmo, obrigar
a Ditadura a recolocar a Revolução no seu verdadeiro caminho, obedecendo às
reivindicações da Aliança Liberal, como o disse João Neves da Fontoura.
Ao iniciar-se o movimento no Estado de São Paulo, Resende sente os
primeiros efeitos da movimentação de tropas, uma vez que as mais importantes
unidades militares paulistas vão se voltar para direção de Resende como
primeiro ponto a ser conquistado, com vistas a chegar à capital federal. A
cidade tranquila do interior, com seus casarões centenários advindos do ciclo
cafeeiro, transformam-se em setor de operações das tropas do governo
(legalistas). Itamar Bopp nos relata que, em 10 de março de 1932, entra na
cidade, sob o comando do Coronel Pinto Coelho, um pelotão do 1º Regimento de
Cavalaria Divisionária, que monta sua área de acantonamento em Campos Elíseos.
No dia 12 de março o comando é passado ao Coronel Manoel de
Cerqueira Daltro Filho. O destacamento é reforçado por mais três unidades do Exército, quando se instala o Quartel General em
dependências da Estrada de Ferro, ou seja, na sede da Estação Ferroviária de
Resende. Neste momento é proclamada, aos habitantes de
Resende, que a cidade está ocupada militarmente, como medida preventiva, e é divulgada
quais as restrições sob ordem marcial. Mais de 800 homens são mobilizados para
manterem a ordem e disciplina em função do momento delicado.
Fig.1 Cel. Daltro e Gen.
Góes Monteiro 1932
Breve histórico das Asas da
Força Terrestre – Dos balões na Guerra da Tríplice Aliança (1867) ao advento da
Arma de Aviação e o conflito de 1932
Durante a Guerra da Tríplice Aliança (Guerra do Paraguai), em
1867, o então Marques de Caxias (Duque de Caxias - Patrono do Exército) operou
balões cativos para observar as tropas paraguaias nas regiões de Curupaiti e
Humaitá. Foi o primeiro emprego de um meio aéreo em combate na América Latina.
A importância dos balões, como
plataforma de observação e reconhecimento em combate, levou o Exército
Brasileiro a planejar a primeira unidade aérea (Parque de Aerostação) das
Forças Armadas Brasileiras. O 1° Ten Juventino da Fonseca, em 1907 na Europa,
realizou cursos e provas para operação de balões, tornando-se o primeiro
aeronauta militar do Brasil. Realizou, também, a aquisição de balões e demais
materiais necessários para o início das operações do Parque de Aerostação.
Infelizmente, no ano seguinte, na primeira demonstração aérea em solo
brasileiro, nosso primeiro aeronauta sofreu um acidente durante o voo e faleceu
com a queda do balão. Este fato provocou a primeira investigação aeronáutica no
Brasil.
Durante a década de 1910, os aviões
ganham os ares e atenção em todo o Planeta.
Em 1915, de forma pioneira na
América do Sul, a nossa Força Terrestre empregou o avião em combate na região
de conflito da Campanha do Contestado, na região das localidades de União da
Vitória - PR e Porto União - SC. Coube ao Patrono da Aviação do Exército,
Capitão Ricardo Kirk, na época Tenente, a montagem dos primeiros hangares de
campanha e a realização do voo histórico para reconhecer a região.
Os anos seguintes após a Campanha do
Contestado, com o Mundo envolvido na 1° Grande Guerra, mostraram a importância
do vetor aéreo no Teatro de Operações.
Os resultados positivos levaram o
Exército Brasileiro a realização de acordos militares com a França, vencedora
do Primeiro Grande Conflito Mundial. Nasce, em 1918, a Missão Militar Francesa
de Aviação, conhecida como “Pequena Missão”, com o objetivo de apoiar,
tecnicamente, a criação oficial das
"Asas da Força Terrestre".
A Aviação Militar, como era chamada
a antiga Aviação do Exército, escreveu uma grande história, de evolução e
sucesso, durante mais de 20 anos (1919 a 1941).
Em 29 de janeiro de 1919, com forte
influência francesa e modelos de aeronaves empregadas na 1° GM, foi criado o
Serviço de Aviação Militar e respectiva Escola, cuja inauguração oficial, no
Campo dos Afonsos - RJ, foi realizada em 10 de julho do mesmo ano.
Essa primeira fase de criação e
evolução perdurou até 27 de janeiro de 1927, quando o então Serviço evolui para
a Arma de Aviação Militar, a "5° Arma do Exército", com visão
expansionista e estratégica no Território Nacional. A injeção de grandes
recursos na época foi fundamental para essa nova fase, permitindo o verdadeiro
batismo de fogo neste conflito de 1932.
No final do artigo, encontra-se a relação
dos pilotos formados no período de 1920 a 1932. Muitos escreveram nos ares a
história da Aviação Militar na Revolução Constitucionalista de 1932.
As Operações na Frente do Vale do Paraíba
Depois de passada duas
semanas, após o início dos confrontos, os documentos nos mostram que a base de todas as
Operações Aéreas, no Vale do Paraíba, passou a ser no Campo de Aviação de
Resende, instalado na Chácara das Sementes, pertencente ao Ministério da
Agricultura.
Uma
grande área foi desbastada, ampliada e melhorada, utilizando os eucaliptos para estrutura
dos hangares,
levando o aeródromo a ser batizado de “Campo dos Eucaliptos”. Hoje, nesta mesma área, encontra-se a Academia
Militar das Agulhas Negras.
Figura 3. Nesta imagem aérea vemos a Fazenda do Castelo e sua
estrada em direção a Chácara das
Sementes. (Acervo Prof. Historiador Fernando Mauro –RJ)
Figura 4. Temos os Tenentes
Nero Moura e Muricy nos aeródromo de Resende. Fonte: Museu Nero
Moura .
Figura 5. Vemos o Aeródromo de Resende com sua estrada, o Campo de
Pouso, tarmac e a sede da Chácara
das Sementes ao final. (Acervo Prof. Historiador
Fernando Mauro –RJ)
Neste período das ações no
Vale do Paraíba, mais especificamente em Resende, houve a atuação da 1ª
Companhia Provisória Preparadora de Terrenos, responsável pela construção do
aeródromo. Conforme foi chegando o
término das hostilidades, e com o recuo das tropas Paulistas, foram utilizados
os Campos Provisórios de Cruzeiro e Lorena.
Figura 6 Preparação do
Campo de Resende pela 1ªCia Provisória Preparatória de
Terrenos.Fonte:SIAN2021
Figura 7. Temos imagem da Estrutura do Hangar onda podemos observar ainda alguns Eucaliptos.Fonte:SIAN2021
Várias missões foram
realizadas na Frente Leste pelo Grupo Misto de Aviação. Na Frente do Vale do
Paraíba, vários oficiais participaram das ações, entre
ele temos o Major Eduardo Gomes, os Capitães Henrique Dyott Fontenelle, Antônio
Fernandes Barbosa, Inácio de Loyola Daher; Os 1º Tenentes Francisco de Assis
Corrêa de Mello, Jose Candido da Silva Muricy,
Antônio Alves Cabral, Antônio de Lemos Cunha, Márcio de Souza Mello,
Joelmir de Campos Araripe Macedo, Jose Sampaio Macedo, Clovis Monteiro
Travassos, Jose de Souza Prata, Júlio Américo dos Reis, Nelson Freire
Lavenère-Wanderley, Joaquim Tavares Libânio, Armando Perdigão, Benjamim Manoel
Amarante, Waldemiro Advíncula Montezuma, Homero Souto de Oliveira, João Adil de
Oliveira, Martinho Candido de Souza, Aloysio Telles Ribeiro e o Carlos
Rodrigues Coelho. Os 2º Tenentes que Operaram a partir do aeródromo de Resende
foram eles Oswaldo Balloussier, Jose Vicente Faria Lima, Manoel de Oliveira,
Nero Moura, Miguel Lampert, Ruy Presser Bello, Anísio Botelho, Geraldo Guia de
Aquino, Lauro Aguirre Horta Barbosa, Armando Serra de Menezes, Carlos
Brunsuvick França, Oswaldo Carneiro Lima, Tyndaro Pereira Dias e Dinarco Reis.
Quem é conhecedor de História militar vai notar que nestas listas estão os
principais personagens do futuro primeiro Grupo de Caça da vindoura Força Aérea
Brasileira que vai fazer história nos céus da Europa com no famoso Senta Púa.
Ação sobre o Vale
Nos céus
do Vale do Paraíba ocorreram poucos encontros aéreos. Um deles se deu no dia 22 de
agosto de 1932, entre uma aeronave Waco C.S.O. e um caça Nieuport Delage 72, da
aviação revolucionária paulista. Em outra ação, uma aeronave Waco C.S.O e um Potez 25 T.O.E. legalista trocaram rajadas com alguns aviões
paulistas quem haviam feito ataque às tropas na frente de combate de Queluz-SP. Os aviões legalistas,
baseados em Resende, decolaram para perseguí-los. Não ocorreram baixas pois, ao chegarem ao espaço aéreo, as
aeronaves paulistas já haviam retornado a sua base em Lorena-SP. Com avanço do combate, uma
aeronave Potez 25 T.O.E., prefixo A-116, da esquadrilha paulista, foi incendiada em decorrência de um bombardeio ocorrido
no dia 23 de agosto, sobre o Campo de
Guaratinguetá-SP.
Em
Resende, o bairro de Campos Elíseos foi ocupado pelas tropas em ação e em sua
área do Horto Florestal, do Ministério da Agricultura (conhecido na época por
Chácara das Sementes/Horto Florestal), foram derrubadas árvores para dar lugar
a um campo de pouso voltado às operações de esquadrilhas
de aviões militares, com missões de observação e ataque ao solo paulista. Os
populares aviões chamavam muita
atenção dos moradores locais, com destaque para a
primeira aeronave, pilotada pelo tenente Muricy, da Aviação Militar (Exército).
O Tenente Muricy foi um dos primeiros a engajar num combate aéreo pilotando um Potez 25 T.O.E., tendo como observador metralhador o Tenente José Vicente de Faria Lima.Durante a Revolução Constitucionalista, em 1932, o Grupo Misto da Aviação Militar operou com 5 (cinco) Waco C.S.O (com metralhadoras e porta-bombas) e 12 (doze) Potez 25 T.O.E (observação e bombardeio), junto a Escola de Aviação Militar, está com 11 (onze) De Havilland DH 60T (ligação, observação e regulagem de tiro de artilharia), 1 (um) Nieuport Delage 72 (caça) e 1 (um) Amiot 122 (bombardeio). Todos participaram das operações ao lado das forças legalistas. Os aviões Waco C.S.O eram chamados, pela população, de “Vermelhinhos”. Foram realizadas cerca de 1.300 missões e voadas, aproximadamente, 2.500 horas.
Fig.7 Umas aeronaves do Grupo Misto de Aviação Militar em Resende.Fonte SIAN2021
Mas o episódio mais
marcante das operações com aeronaves, no período dos confrontos de 1932, foi o
relato do historiador Itamar Bopp
sobre o bombardeio a Resende. Sabe-se que o General Klinger determinou, como
ação de dissuasão, que fosse feito o bombardeio aéreo das cidades do Rio de
Janeiro, de Barra Mansa, de Barra do Piraí e Resende, sendo que esta foi a única a ser atacada entre os quatro pretensos alvos das
cidades citadas, nas diretivas do General Bertholdo Klinger (Comandante em Chefe das Forças Paulistas). Resende
sofreu um ataque aéreo em 1932, fato este que, dentro da história militar, faz da
região alvo para mais estudos sobre a ação das tecnologias bélicas na
historiografia militar brasileira. Mas como se deu o fato? Segundo Bopp nos
relata, da seguinte maneira:
“Na madrugada de 13 de agosto de 1932, por volta de três horas da
madrugada, a cidade é despertada por violentos e sucessivos estampidos.
Madrugada de luar argênteo. Buscam todos, atônitos, conhecer a causa. Foi logo
conhecida. Um avião que viera das bandas de São Paulo e que em baixa altitude
sobrevoara o Campo de Aviação de Campos Elíseos, e o comboio da Central do
Brasil que estacionado na estação de Resende, servia de Q.G. do General Góes
Monteiro, tomando rumo a fazenda Santo Amaro nas cercanias da cidade,
bombardeara terra limítrofes. Identificam-se sem tardança, os locais atingidos
,terra das chácaras de Adelino Souto e de Inez Teltscher,à rua do Rosário e um
valo[1],
nos campos do imóvel Santo Amaro, de propriedade do Dr. Oliveira Botelho.
Indisfarçável o nervosismo da população. Por todo dia foi grande a romaria de
curiosos ,civis e militares aos pontos atingidos. Um dos grandes petardos que
caíra na chácara Teltscher ,não explodira embora cravado até a meia altura ,no
local depois de desgalhado pequena árvore que frondejava. Parece que o intuito
do aviador ,foi tão só, fazer guerra de nervos, alarmando a população civil e
atemorizando as tropa legais, com bombas feitas em Limeira pela firma Barros
Camargo.”[2]
Em O Emprego da Aviação na Revolução
constitucionalista de 1932, Manuel Cambeses Júnior nos trás o seguinte relato
sobre o ataque a Resende:
“...o Grupo de Aviação
Constitucionalista se deslocara para Lorena, a fim de tentar barrar o avanço
governista no Vale do Paraíba e na frente mineira. Chegados a Lorena, foram
logo empenhados em ataques a pontos fortes da frente legalista, surpreendendo
as tropas há muito habituadas apenas ao sobrevoo de aviões amigos. Com o
intuito de marcar o seu espírito ofensivo, os rebeldes planejaram um audacioso
ataque ao Campo de Resende, levado a efeito no dia 13 de agosto às 01h30min,
sem maiores consequências táticas, mas constituindo-se no primeiro ataque aéreo
noturno realizado na América Latina. É o que afirmam alguns pesquisadores,
declarando que ele precedeu de dois anos e quatro meses o alegado primeiro
ataque do avião naval paraguaio Macchi M 18, que consta nos registros
aeronáuticos como tendo sido realizado a 20 de dezembro de 1934.”
Figura 8. Aeródromo de Resende, Campo dos Eucaliptos, população e Liga das Mulheres visitam as Instalações. Fonte: Revista Careta – Biblioteca Nacional.
[1] Valo
o autor do texto se refere a trincheiras das tropas legalistas acantonadas nas
terras do Dr.Oliveira Botelho.
[2] Bopp,Itamar
,Resende – Cem Anos da Cidade 1848-1948,Gráfica Sangirard ,São Paulo p.255
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