sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Revolta Liberal de 1842 e Região do Vale do Paraíba


Julio Cesar Fidelis Soares[1]
Revolta 1842 tem  origens  nas disputas políticas  entre Liberais e Conservadores. A Revolta Liberal de 1842 foi um levante dos liberais da província de São Paulo e Minas Gerais em função dos processos eleitorais fraudulentos. Tal período ficou conhecido a época de  
” Eleições do Cacete” o Partido Liberal havia conseguido eleger com hegemonia de deputados eleitos para a Assembleia dos Deputados. O Partido Conservador sabia que os Liberais haviam fraudado as eleições e por isso buscaram a anulação do processo eleitoral. O Conselho de Ministros, formado na maioria por Conservadores, solicitou a D. Pedro II que anulasse os votos da Eleição do Cacete. Em 1842 O Ministério Liberal foi dissolvido e os Conservadores novamente retornaram ao poder. Não aceitando a troca de ministério, os Liberais  iniciaram uma revolta que ficou conhecida como Revolução Liberal de 1842. Assim os Liberais de duas províncias aderiram a revolução, São Paulo e Minas Gerais.
Na província de São Paulo, a Revolta Liberal iniciou-se na Cidade de Sorocaba, o movimento foi liderado pelo ex-regente Antônio Feijó[2] e pelo Brigadeiro Tobias de Aguiar. As cidades do Vale do Paraíba tais como: Taubaté, Pindamonhangaba, Lorena e Silveira se apresentaram como favoráveis aos  Liberais. Já na província de  Minas Gerais a liderança da revolução ficou nas mãos de Teófilo Otoni[3] e tiveram as cidades de Santa Luzia, Santa Bárbara, Caeté e Sabará como núcleo da ideologia liberal dos mineiros. Com tal revolva  os rebeldes liberais tinham o objetivo de  retomar o governo através da luta armada. Eles formariam a Coluna Libertadora  que marcharia até ao Rio de Janeiro para derrubar o Governo Conservador.


Fig.1 Theophilo Benedicto Ottoni líder do movimento em Minas Gerais.
                                  
Fig. 1 Correspondência Gabinete da Regência – 9 de Setembro de 1831 assinada pelo Regente Pe. Diogo Antonio Feijó a Câmara de Resende.1834 fonte: Arquivo Histórico de Resende.
O Governo Imperial contava  com apoio do conservadores para combater os revoltosos liberais; assim  foram organizadas tropas lideradas pelo Barão de Caxias. Que tratou de solicitar apoio, sobretudo dos Corpos da Guarda Nacional comandados especialmente por conservadores de importância tal qual o Coronel da Guarda Nacional Fabiano Pereira Barreto,que tinha a sua disposição segundo o relatório provincial de 1843 que nos relata da organização dos Corpos da Guarda Nacional em nossa região do Vale do Médio Paraíba Fluminense:mostrando  que nas  freguesias de  Resende, São Vicente Ferrer e Sant´Anna na Vila de Resende e nas freguesias de Barra Mansa, Amparo e Espírito Santo na Vila de Barra Mansa eram sede do 1º e 2º Corpo de Cavalaria da Guarda Nacional, do 9ª Legião comandada pelo Coronel GN Lucas Antonio Monteiro de Barros, figurando também neste contexto um Batalhão de Infantaria. Esta formação de 1843 deveria ser a mesma de 1842.
Segundo Itamar Bopp quando o Comendador Fabiano Pereira Barreto soube dos movimentos revolucionários de Queluz, Silveiras e São José do Barreiro, deu ordem de reunir a seu Corpo da Guarda Nacional, do qual tinha o título de Comandante Superior, pôs a Vila de Resende em estado de “Choque” (hoje falaríamos estado de sítio), a palavra foi citada no ofício enviado por Honório Hermeto Carneiro Leão[4]·, Marquês do Paraná, ao então Presidente da Província do Rio de Janeiro ao Conselheiro Cândido José Araújo Vianna, Marquês de Sapucaí e Ministro da Justiça do Império, diz o texto:
“os abaixo indicados e o CORONEL FABIANO PEREIRA BARRETO, como um dos que mais se distinguiram pela sua cooperação no restabelecimento da ordem legal na Província de Minas Gerais, marchando para Queluz[5], e sua energia contribuiu eficazmente para que a Vila de Resende se comportasse tão brilhantemente.”


Fig.2 Coronel da Guarda Nacional – Comendador Fabiano Pereira Barreto, Comandante Superior das Unidades da Guarda Nacional na região do atual Médio Vale do Rio Paraíba – província do Rio de Janeiro.
Em São Paulo o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar organizou um contingente de cerca 1500 combatentes, que acabou sendo batizado como “Coluna Libertadora”, marcharam em direção da tomada do poder da Província depondo o Presidente o Barão de Monte Alegre. Nesta altura várias vilas de São Paulo tais como Itu, Faxina (hoje Itapeva), Porto Feliz, Itapetininga, Capivari e Sorocaba eram núcleos Liberais.


Fig.3 Marquês de Paraná – Primeiro Ministro do Império
Em função da progressão do movimento o Barão de Monte Alegre, contou com ajuda de seu amigo o ministro da Guerra José Clemente Ferreira[6]que prontamente deu ordens ao Brigadeiro Luis Alves de Lima e Silva então Barão de Caxias a sufocar a revolta, situação resolvida com desembarque e progressão das tropas imperiais contra a capital da província e as cidades tidas como núcleo dos Liberais.
Na Província de Minas Gerais, a revolta irrompeu a 10 de junho de 1842 em Barbacena, escolhida como sede do governo revolucionário. Foi elevado presidente interino da Província José Feliciano Pinto Coelho da Cunha[7]. Em quatro de julho, em Que luz (com já havíamos dito Conselheiro Lafaiete), as forças legais foram vencidas pelos revoltosos comandados pelo Cel. Antônio Nunes Galvão. Os revoltosos receberam novas adesões notadamente de Santa Luzia, Santa Quitéria, Santa Bárbara, Itabira, Caeté e Sabará. A notícia da derrota dos revoltosos paulistas colocou os mineiros em desacordo sobre atacar Ouro Preto que era capital da Província de Minas Gerais e tinha como Presidente Professor Herculano Ferreira Pena[8].
Caxias foi nomeado comandante do exército Imperial pacificador e emprega a mesma estratégia utilizada em São Paulo, tomar a capital o mais rápido possível, o que ocorre em seis de agosto de 1842 beneficiados pela indecisão dos comandantes revoltosos.
Os revoltosos saem vencedores da Batalha de Lagoa Santa, sob a liderança de Teófilo Ottoni, isto faz com que Caxias reúna suas forças e resolva atacar Santa Luzia, dividindo seu exército em três colunas, uma sob o comando de seu irmão José Joaquim de Lima e Silva Sobrinho[9], outra por ele mesmo e a terceira pelo tenente-coronel Ataídes.

Fig.4 Casa que serviu de Quartel do Comando Revolução em Santa Luzia –MG.
 Entretanto, devido ao desconhecimento do terreno, Caxias é atacado pelos revoltosos, consegue resistir, e com a chegada da coluna de seu irmão, consegue vitória em 20 de agosto. Com isso acaba a revolta na província. Os liberais de São Paulo e os liberais de Minas Gerais foram derrotados e presos pelas tropas comandadas pelo Barão de Caxias.
O Historiador Itamar Bopp procura descrever da seguinte forma ação imediata do império contra Revolta de 1842 “As perturbações da ordem pública nos anos de 1841 e 1842, diminuíram o movimento das comunicações, como se lê nos Decretos seguintes:
  Achando-se interrompidas as comunicações entre os municípios de Cunha,Bananal, Arêas,Queluz,Silveiras,Lorena e Guaratinguetá e Capital da Províncias de São Paulo; e,atendendo além disso à prontidão com que se devem dar as providências tendentes a restabelecer a Ordem perturbada na referida Província pela rebelião que ultimamente se manifestou em alguns lugares della ; Hei por bem que os referidos municípios fiquem desanexados da mencionada Província e, incorporados à do Rio de Janeiro enquanto durarem as circunstancia extraordinárias que tornão indispensável estas providências. Palacio do Rio de Janeiro, 18 de Junho de 1842. 21º da Independência.”[10]
Ao final das hostilidades e resolvidas as “Perturbações” houve o Decreto nº216 de 29 de Agosto de 1842 que revogava o decreto acima citado e diz :
“Tendo cessa os motivos que fizerão necessária a Providência do decreto 180 de 18 de junho do corrente ano,pelo qual foram encorporadas provisóriamente à Província do Rio de Janeiro os municípios das vilas Cunha,Bananal, Arêas,Queluz,Silveiras,Lorena e Guaratinguetá,Hei por bem ordenar que os ditos municípios fiquem pertencendo à Província de São Paulo,pela mesmas maneira por que pertencião antes do referido decreto,que fica assim revogado.Palacio do Rio de Janeiro,em 29 de agosto de 1942. 21ºda Independência e do Império. As.Candido José de Araújo Vianna[11].”
Concluindo este estudo , enfatizo o fato da necessidade de novas pesquisas sobre a formação econômica da região do médio Vale do Paraíba Fluminense, elemento de extrema importância para entendermos a Formação Econômica do Brasil a luz de um novo modelo historiográfico que considere as relações de poder regionalmente e as dinâmicas econômicas vividas por cada recanto do Vale do Paraíba, pois pela historiografia clássica as cidades locais tinham uma pequena relação com as fazendas e a riqueza girava em torno destas e não daquelas, o que no caso de Resende podemos ver exatamente o contrário; com a formação de um grupo bem destacado de pequenos e médios produtores ativos politicamente, ocasionando uma distribuição de renda bem diferente do que se poderia imaginar face as grandes propriedades. Tudo isto no período em que o Brasil era o Império do Café, mesmo quando o processo econômico brasileiro se desenvolvia nas condições de economia incipiente nos moldes de um capitalismo tardio, com traços coloniais, dependente e mercantilista, ainda que no século XIX o mercantilismo já tivesse sido superado como modelo internacional, os pequenos e médios cafeicultores coexistiam, agiam e interagiam no tão afamado mundo das propriedades cafeeiras, formando neste caso um contingente com poder político e econômico.  Pois fazendo parte ativa dos Corpos da Guarda Nacional se viam como  verdadeiros  baluartes da independência e a integridade do Império  e braço de Sua Majestade Imperial Defensor Perpétuo do Brasil .
Fig.5 Sua Majestade Imperial Dom Pedro II em 1842 
fonte: http://imperiobrazil.blogspot.com.br/2012/01/dom-pedro-ii-parte-i-em-montagem.html.
Referências:

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[1] Mestre em História Social,Economista,Professor Universitário do UGB Volta Redonda,membro do IEV- Instituto de Estudos Valeparaibanos,da Academia Resendense de História e da Academia de História Militar Terrestre do Brasil.
[2] Diogo Antônio Feijó, também conhecido como Regente Feijó ou Padre Feijó (São Paulo, batizado em 17 de agosto de 1784 — São Paulo, 10 de novembro de 1843), foi um sacerdote católico e estadista brasileiro.Considerado um dos fundadores do Partido Liberal. Pode-se resumir bastante sua vida afirmando que exerceu o sacerdócio em Santana de Parnaíba, em Guaratinguetá e em Campinas. Foi professor de História, Geografia e Francês. Estabeleceu-se em Itu, dedicando-se ao estudo da Filosofia. Em seu primeiro cargo político foi vereador em Itu. Foi deputado por São Paulo às Cortes de Lisboa, abandonando a Assembléia antes da aprovação da Constituição. Era adversário político de outro paulista, José Bonifácio de Andrada e Silva. Era defensor da descentralização e de políticas liberais, entrando em conflito com a própria Igreja. Foi deputado geral por São Paulo (1826 e 1830), senador (1833), ministro da Justiça (1831-1832) e regente do Império (1835-1837).
[3] Líder da Revolução de 1842 em Minas Gerais. Foi vencido por Luís Alves de Lima e Silva, então barão de Caxias, na batalha de Santa Luzia. Preso e processado, foi julgado e absolvido por unanimidade em Mariana, sendo depois beneficiado pela anistia geral decretada pelo imperador Dom Pedro II.
[4] Honório Hermeto Carneiro Leão, primeiro e único visconde com grandeza, conde e marquês de Paraná  (Jacuí, 11 de janeiro de 1801 — Rio de Janeiro, 3 de setembro de 1856), foi um estadista, diplomata, magistrado e político brasileiro. Nascido em uma família de poucos recursos, Paraná cursou Direito na Universidade de Coimbra. De volta ao Brasil, foi nomeado juiz de fora em 1826 e, mais tarde, promovido a desembargador do Tribunal da relação de Pernambuco, embora tenha exercido suas funções na corte. Em 1830, foi eleito para representar Minas Gerais na Assembleia Geral Legislativa, sendo reeleito em 1834 e 1838, e ocupando o cargo até 1841.
[5] A Queluz em questão não é a da cidade vizinha da província de São Paulo, mas atual cidade mineira de Conselheiro Lafayette.
[6] José Clemente Pereira, também conhecido como José Pequeno (Ade, Castelo Mendo, 17 de fevereiro de 1787 — Rio de Janeiro, 10 de março de 1854), foi um magistrado e político luso-brasileiro. Liderou as manifestações populares do Dia do Fico. Foi deputado geral, ministro dos Estrangeiros, ministro da Justiça, ministro da Guerra, Conselheiro de Estado, ministro da Fazenda e senador do Império do Brasil de 1842 a 1854. Foi provedor da Santa Casa de Misericórdia e sua viúva foi agraciada com o título de condessa da Piedade.
[7] José Feliciano Pinto Coelho da Cunha nasceu na Fazenda da Cachoeira, a dois quilômetros da vila colonial de Cocais (hoje, distrito da sede Barão de Cocais) e foi batizado em 16 de dezembro de 1792 na Capela de S.Ana de Cocais - Igreja São João Batista do Morro Grande, Barão de Cocais-MG com o nome de José Feliciano Pinto Salvador Antônio Martins Lopes Coelho da Cunha. Filho do brigadeiro Antônio Caetano Pinto Martins Lopes Coelho da Cunha, ele foi enviado pelos pais para estudar no Rio de Janeiro, onde acabou ingressando no Exército Imperial, alcançando a patente de tenente-coronel.Era primo de Felício Pinto Coelho de Mendonça, o primeiro marido da marquesa de Santos, D. Domitila de Castro.
[8] Herculano Ferreira Pena (Serro,* 1800 — 27 de maio de 1867) foi um professor, jornalista e político brasileiro.Foi deputado geral de 1838 a 1844, presidente de várias províncias do Brasil e senador do Império do Brasil de 1855 a 1867.Foi presidente das províncias de Minas Gerais, do Espírito Santo, do Pará, de Pernambuco, do Maranhão, do Amazonas, de 22 de abril de 1853 a 11 de março de 1855, da Bahia e do Mato Grosso, de ? a 14 de maio de 1863.
[9] José Joaquim de Lima e Silva Sobrinho, primeiro e único visconde e conde de Tocantins (Rio de Janeiro, 7 de outubro de 1809 — Rio de Janeiro, 21 de agosto de 1894) foi um militar e político brasileiro, tendo atuado como coronel na rebelião mineira de 1842. Depois de ter largado a vida militar, foi lavrador e depois comerciante de grande prestígio no Rio de Janeiro, sendo Presidente da Associação Comercial desta cidade e do Banco do Brasil. Foi também político, filiado ao Partido Conservador (Brasil Império), tendo exercido o cargo de deputado pela província de Minas Gerais, na 8ª legislatura, e pela do Rio de Janeiro, nas 10ª e 11ª legislaturas, de 1857 a 1864, e nas 13ª e 14ª, de 1867 a 1872. Já no final da vida, exerceu alguns cargos públicos, principalmente na direção de algumas instituições, como a Sociedade Asilo dos Inválidos da Pátria, do qual foi o seu primeiro diretor em fevereiro de 1867.
[10] Decreto nº180 de 18 de Junho de 1842 (Municípios Paulistas incorporados a província do Rio de Janeiro.
[11] Candido José de Araujo Viana (Marquês de Sapucaí), filho legítimo do Capitão-Mor Manoel de Araujo da Cunha e de D. Mariana Clara da Cunha, nasceu em Congonhas de Sabará, a 15 de setembro de 1793.
 Foi provido pelo Conde de Palma, Governador e Capitão-General da capitania de Minas Gerais, no posto de 2º Ajudante das Ordenanças do termo da vila de Sabará. O Príncipe Regente D. João confirmou esse ato, assinando a respectiva patente, em 9 de fevereiro de 1815. Estudou preparatórios em sua terra natal e, seguindo para Portugal, matriculou-se, a 15 de outubro de 1815, na Faculdade de Leis da Universidade de Coimbra, recebendo o grau de Bacharel, a 9 de junho de 1821.Regressando ao Brasil, foi nomeado Juiz de Fora da cidade de Mariana, em decreto de 19 de dezembro de 1821, e Provedor da Fazenda dos Defuntos e Ausentes, Resíduos e Capelas da mesma cidade, em alvará de 23 de março do ano seguinte.

Um comentário:

  1. boa tarde existe uma relaçao nominal dos combatentes oriundos de sao vicente de ferres? grato flavio arjones flavio arjones@gmail.com

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